terça-feira, 11 de novembro de 2008

FÉ, RAZÃO E SOCIEDADE - Paulo Roberto Moraes


É uma coisa mesmo incrível escrever, digo escrever não pelo simples fato de fazermos esse ato de explanarmos idéias, tanto as nossas quanto às outras pertencentes a outras mentes, não somente ao ato que aprendemos desde cedo e que em muitas situações nos leva ao céu ou ao inferno, afinal podemos assinar documentos que nos apontam à extrema riqueza, como também incontáveis outras situações não tão boas quanto à primeira. Mas deixo aqui a divagação sobre o ato de escrever para descer a um texto que já foi ensaiado outras vezes mas que ainda insistia em permanecer no campo das idéias.
Vou divagar a respeito de reflexões sobre a racionalidade, que aqui denomino razão, a fé e a sociedade, não dando uma de “guru” nem de um respeitável escritor, desses que encontramos comumente em revistas, livros e outras coisas, onde o que eles escrevem acaba por ser a mola mestra de muitos pensamentos e tendências, o absurdo da certeza e do momento. Pretendo um texto leve que reporte quem estiver lendo a uma simples reflexão que servirá para o dia a dia como um todo e que servirá para também discutir com os amigos em meio a uma roda de cerveja e de outra bebida ou situação que o leitor goste de fazer.
Mas de repente você pode estar se perguntando como irei juntar fé, razão e sociedade e aí é que começa a viagem. Mas pergunto: E elas convivem sozinhas? Pois é, já viram que pretendo algumas reflexões, nem que sejam só minhas, mas que pelo menos nos atentem a pensar e a fazer algumas reflexões.
A primeira reflexão que quero compartilhar é essa: Quanto mais o homem conhece a realidade do mundo, tanto mais se conhece no seu sentido de unicidade do ser humano que, além de pensar pode expressar seu pensamento e mais ainda, transformar a realidade que lhe cerca. Isso mesmo, pareceu dar um nó à primeira vista, mas não, esse é para mim uma parcela do preço da razão, tornamos forte o nosso sentido de ser humano, quando passamos a expressar nossos pensamentos.
Por isso, a cada vez que nos deparamos quanto ao sentido das coisas e da nossa própria existência, mais sentido imprimimos em nossas vidas e mais ainda utilizamos da nossa razão, pois o que chega ao nosso conhecimento torna-se parte da nossa vida.
Ainda que permeados por diferentes culturas e modos de percepção a respeito do mundo, estamos todos nós, presos como que a um fio, uma linha única que nos diferencia dos outros animais e nos iguala, enquanto seres humanos de diferentes culturas, eras e sociedades. Sim é ela mesma, a razão, eis o fio da meada humana, o elo perdido que os cientistas buscam tanto, é esse limiar que influenciou a nossa fisiologia que nos deu a diferença no caminho da evolução. Pensem quando o mais próximo ancestral humano se percebeu pensando, nesse momento em que conseguiu estabelecer conexões neurais suficientes para além de ficar ereto, pensar e se expressar, criar códigos, contar histórias, estabelecer condutas e as mais diversas condições de transformação de sua forma de vida marcando de vez a história da evolução a ponto de hoje estarmos nós aqui pensando nele.
Mas deixemos um pouco o nosso diferencial racional e vamos ao encontro daquilo que prefiro apontar como contraponto filosófico da razão, o que denominamos de fé, pois quem mais do que a fé desafia a razão? Quem mais do que a fé nos coloca à indagações e sensos difusos aos racionais? Sim, a fé, caminha junto à razão, acho até que é filha do mesmo pai com a mesma mãe.
Ora a fé, sem ela, talvez fossemos todos robotizados, escravizados na nossa racionalidade que nos criaria a maior das armadilhas, nos tiraria a possibilidade de visionar, de sonhar com aquilo que a razão insiste em nos mostrar que não é possível.Imaginem-se quão chatos são aqueles que são meramente racionais! Pois bem, seriamos todos assim.
A fé, dizem movem montanhas, eu acredito mesmo que sim, movem assim como são movidas as mentes que se utilizam dela para imprimir o domínio da razão, afinal ela de novo vem nos dizer que não podemos acreditar em tudo, ela tem que ser mais. Mas não sou contrário à razão, mas a minha é branda e me mostra que existem outras formas de poder, dentre elas a fé.
Mas a questão é que ela tem um fator ainda mais unificador do que a razão, pois pela fé homens mataram, dominaram e ainda se matam e ainda dominam, pela mesma fé esquecem o limiar da razão e dominam impondo novamente trajetórias, divergências e loucuras e aí desembocamos na sociedade.
E sobre esse “mal necessário”, que chamamos sociedade, aponto os caminhos onde a fé e a razão hora se combinam, hora se destoam, mas sem sombra de dúvidas tentam se complementar e se sobrepor.
Mas a sociedade, tal como hoje concebemos, que nasceu para nós ocidentais com os gregos essa caminha permeada por razão, por fé e por mais variadas loucuras que estamos nos acostumando cada dia mais. Deixemos os vícios modernos para outro momento, esse fica prometido à aqueles que estão gostando desse ensaio.
Sociedade, essa necessidade criada pela razão, sim pela razão ou foi pela fé? Deixo isso para que vocês decidam que é o dono desse nó górdio humano. Essa em que vivemos que muitas vezes proferimos a sua completa deterioração está na realidade maculada pela eterna briga entre a fé e a razão, porque na fé há aqueles que se acolhem para mudar a realidade que foi impostam pelos que dominam através da razão e da aceitação da maioria, como também aqueles que se aproveitam para criar novos paradigmas da existência.
Criamos as mais distintas nomenclaturas para definir aquilo que todos nós estamos tão intimamente ligados, agora a pergunta: Podemos viver sem ela? A resposta deixo de novo para vocês, não vou nem me preocupar com as respostas.
Enfim, em meio a todas as reflexões fica aqui a necessidade de complemento daqueles que quiserem comentar, aqui nada está pronto, pois eu, como parte da briga entre a fé a razão, sinto que já contribuir.
Fé, razão e sociedade, essa é tríade em que vivemos, sintam-se à vontade, ela é toda nossa.

Paulo Roberto Moraes da Luz – Codinome “Escritor por engano”
paulomoraesluz@hotmail.com


O Autor do texto é Administrador de Empresas pela UFBA, Pós Graduado em RH pela FIB, Pós Graduado em Psicologia de Ação Social pela Faculdade São Bento, estudante em fase final de conclusão do curso de Direito na Ucsal, Consultor e sócio da Conceptum Consultoria e Assessoria Ltda., além de amante da literatura e de assuntos que rodeiam a existencialismo humano.

2 comentários:

João Ferreira Jr disse...

Em meu universo particular... da razão nasceu a sociedade e por consequencia a fé, para arrumar a brincadeira ou complicar o óbvio. A fé em códigos temos a religião que complica, robotiza, limita, a fé com a razão é afago, é pespectiva mas isso vai do observador, aqui nesse ponto de observação "eu", vejo-as complemntando.
João Ferreira jr

Josman Lima disse...

Caríssimo autor, não tenho intenção nenhuma de completar, “quem sou eu” pra querer me ousar a tanto, nem tampouco de querer mudar seu pensamento em relação à fé, razão e sociedade. Como você pede para que façamos qualquer comentário então eis aí o meu: “Como é bom escrever e quão privilegiado é você e todas as pessoas que praticam esse ato. Ninguém passa por esta vida sem deixar nada que possa ser útil para os que virão, aliás, uns simplesmente passam pela vida, outros fazem questão de deixar marcas. Quando se escreve algo se imortaliza fatos, pessoas e etc, talvez sem intenção, mas o fato é que aqui você deixa sua marca no que tange ao olhar sobre um tema muito bem abordado. Interessante que você coloca em seu texto que esta reflexão pode ser discutida numa roda de cerveja entre amigos, seja num bar ou numa outra situação qualquer. Enganam-se quem pensa que em rodas de cerveja se falam apenas de mulher, de futebol, e da vida alheia em geral, muito pelo contrário, numa roda de cerveja também se evangeliza, se discute relações e chegam a se entender.
Quanto ao fato do auto conhecimento, bem verdade o homem precisa se conhecer e saber o que ele quer para si, o que ele pensa de si e de tudo o que lhe envolve, mas não deve se calar, é preciso expressar o que sente, ele é o que é. E é aí onde entra a razão: é preciso ter cuidado ao se expressar, bom senso e prudência também faz parte da razão. Existem várias formas de expressão, existem coisas que podem ser ditas, mas é preciso saber como dizê-las. Isto é SABEDORIA.
Quanto a fé, ela não é produto da mente humana, de gente grande; “a fé é dom de Deus” (Ef 2,8). E sendo a fé dom de Deus, não é somente individual, mas também comunitária. Ela manifesta também na família, no lar, onde uma criança participa da fé de seus pais, como participa do seu afeto, do seu carinho e do seu amor. Queira me perdoar pelas colocações aqui escritas, mas não é intenção minha em tornar este comentário em “tema religioso”, porém é preciso se dizer sobre a origem da fé. Não se pode banalizar a fé nem medir a fé de ninguém pelo que são ou pela forma como vê as coisas ou como agem – cada um sabe o tamanho da sua.
Acredito sim, que a fé move montanha e é justamente pela fé que pessoas vivem, mas também que pessoas morrem. Uma fé que é própria de cada um e que por ela ou através dela pessoas perdem a razão.
A sociedade, “um mal necessário” – diz o autor – criada, a meu ver, tanto pela fé como pela razão, é uma influenciando a outra e vice versa. Uma sociedade que às vezes nos deparamos ao vê-la destruindo a fé e esta se perdendo no meio da razão que, consequentemente, torna as pessoas cada dia menos amáveis, menos solidárias, contribuindo para a destruição de um mundo que foi feito para o homem ser feliz. Amém!

Parabéns pelo texto quando faz uma boa relação entre fé, razão e sociedade.

Alexandre Jr